sábado, 31 de dezembro de 2022

Scott Elliott - “O Mapa do Mundo” / “A Map of the World”


Scott Elliott
“O Mapa do Mundo” / “A Map of the World”
(EUA – 1999) – (125 min. / Cor)
Sigourney Weaver, Julianne Moore, Chloe Sevigny.

Antes de falar do filme, gostaria de contar a forma como o “descobri”, já lá vão uns anos. Tudo começou quando encontrei um cd do Pat Metheny intitulado “A Map of the World” e depois de escutar algumas faixas não resisti a trazê-lo para casa. Quando o estava a pagar, a pessoa da discoteca perguntou-me se também tinha visto o filme no dia anterior na televisão, respondi que não e quando cheguei a casa compreendi as imagens que acompanhavam o cd através da música do Pat Metheny. Dois ou três anos depois descobri o dvd, mas resisti devido àquele princípio de não comprar dvds cujos filmes não conheço. Dois anos depois o filme foi reposto no grande écran e acabei por ter uma agradável surpresa.


Até hoje nunca vi um mau filme interpretado por Julianne Moore ou Sigourney Weaver (*) e no entanto o nome de Scott Elliott era perfeitamente desconhecido, mas como as surpresas do cinema independente são sempre tantas e por ali andava mais uma vez a Chloe Sevigny a “menina querida” dos "indies" (com a qual não simpatizo), mas o que interessa aqui é a surpresa que tive ao descobrir esta história passada naquele território, único, intitulado a América profunda, por onde já andei e onde poderemos sempre encontrar o melhor e por vezes se pode também esperar o pior se não cumprirmos “as regras da casa”.


Alice Goodwin (Sigourney Weaver) foi uma das muitas americanas que trocou a cidade pelo campo, quando o marido decidiu ser agricultor, tendo encontrado um emprego como enfermeira na escola da "little town", mas a sua relação com as crianças por vezes era difícil, quando já tinha em casa duas crianças pequenas para tratar e um marido indisponível para a ajudar. Por vezes há crianças que criam afectos pouco amistosos com determinados adultos e o filho de Carole Mackeny (Chloe Sevigny) era um exemplo do que referimos. Mas Alice tinha, na sua vizinha Theresa (Julianne Moore), a sua melhor amiga, até que um dia o mundo desabou no pequeno mapa de Alice (Sigourney Weaver).


Alice e Theresa tinham ambas crianças e num dos dias em que a filha mais nova de Theresa ficou com Alice, esta não se apercebeu que ela tinha saído da sala e dirigido para o lago, onde encontrou a morte. A amizade que unia as duas mulheres sucumbiu perante a perda da criança e inicia-se uma hostilização silenciosa de toda a população em relação a Alice, até que o pior acaba por surgir quando Carole acusa a enfermeira de maus-tratos ao filho, insinuando relações mais profundas. O drama está instalado e dizemos drama porque aqui não há lugar para o melodrama, mas sim para a complexidade das relações. Ficamos por aqui na sinopse, porque não queremos desvendar a totalidade da história, apenas motivar a visão do filme.


A forma como os actores vão interpretando as suas personagens é perfeitamente deslumbrante, seja a Sigourney Weaver ou a Julianne Moore, mas também o então pouco conhecido David Strathaim (um extraordinário actor que se revelou ao mundo cinematográfico com a sua interpretação em “Good Night and Good Luck” / “Boa Noite e Boa Sorte”, realizado por George Clooney, tendo sido candidato ao Oscar para o Melhor Actor Principal), um homem do Teatro, mas também da Televisão. E depois há a música de Pat Metheny perfeitamente envolvente, com uma guitarra acústica que sussurra, chora, ama e nos convida a seguir o calvário de Alice Goodwin.


Para terminar, duas pequenas notas: a presença de Louise Fletcher interpretando a figura de Nellie Goodwin e para aqueles de fraca memória, recordamos que ela era a enfermeira-chefe em “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”; a produção do filme “A Map of the World” foi entregue a Kathleen Kennedy, a produtora habitual de Steven Spielberg.

Alguns estarão a perguntar neste momento, o que é “O Mapa do Mundo”?


Uma Metáfora? Vejam este belo filme, porque o cinema foi criado para contar histórias como esta ou outras idênticas, como “O Rio” 7 “The River” de Mark Rydell ou “Vidas Privadas” / “In the Bedroom” de Todd Field. “O Mapa do Mundo” / “The Map of the World” de Scott Elliot merece ser descoberto por todos!


(*) – Sigourney Weaver foi indigitada pela sua interpretação nesta película para o Globo de Ouro, como Melhor Actriz Dramática em 2000.

Nota: Este filme está disponível em dvd no nosso país e tem sido exibido no pequeno écran em diversos canais do cabo e bem merece ser descoberto!

Rui Luís Lima

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Thomas Vinterberg - "A Festa" / "Festen"


Thomas Vinterberg
"A Festa" / "Festen"
(Dinamarca/Suécia – 1998) – (105 min. / Cor)
Ulrich Thomsen, Henning Moritzen, Thomas Bo Larson, Paproka Steen.

“A Festa” / “Festen” foi o segundo filme a surgir, após o aparecimento do célebre Manifesto Dogma 95, elaborado por diversos cineastas dinamarqueses, entre os quais se inclui Lars Von Trier e que preconiza a realização de filmes com o mínimo de meios: câmara digital, luz natural, improvisação e reduzido número de efeitos visuais. Alguns consideraram o Manifesto como um golpe publicitário, mas o que é certo é que ele abriu as portas do cinema Dinamarquês para o exterior, tornando muito maior a sua visibilidade, ao mesmo tempo que eram descobertos novos cineastas, que até então apenas eram conhecidos nos países nórdicos.


Thomas Vinterberg, que também assina o argumento com Morgen Rukov, seu habitual colaborador, convida-nos a assistir à festa de aniversário do patriarca de uma família que comemora os seus sessenta anos, iremos assim conhecer os membros de uma família abastada e as suas respectivas vidas, mas à medida que os acontecimentos e os conflitos vão surgindo, iremos deparar-nos perante um enorme drama familiar, onde irão ser revelados segredos até então bem guardados por todos.


A forma como nos é dado a ver os diversos conflitos, que se vão gerar ao longo da película, faz-nos recordar por diversas vezes os filmes e a dramaturgia das obras de John Cassavetes ou o famoso “Um Casamento” / “A Wedding” de Robert Altman.


Nas vésperas da comemoração do aniversário do patriarca da família, a filha gémea do irmão mais velho irá suicidar-se, pairando a sombra deste acontecimento durante o serão, revelando-se como o elemento que irá despoletar a tragédia, para virmos a saber que o pai violava os seus próprios filhos, com o conhecimento da mulher, enquanto um dos filhos engravidara uma das criadas, obrigando-a depois a fazer um aborto, devido à sua condição social.


“A Festa” / “Festen” irá dar diversos “murros no estômago” ao espectador, sem dó nem piedade, que atónito vai assistindo ao desenrolar dos acontecimentos, sempre num escalar de tensão e onde até o racismo não está ausente.


Thomas Vinterberg ao realizar esta película, vencedora de 28 Prémios Cinematográficos, incluindo o Prémio Especial do Juri de Cannes, oferece-nos com “Festen” / “A Festa” um dos seus melhores trabalhos, revelando-se este filme como o melhor de todos os que foram criados segundo as regras do famoso “Dogma 95” dinamarquês, cuja linguagem cinematográfica irá ser adoptada ou testada, se preferirem, por realizadores oriundos das mais diversas partes do globo, ao longo dos anos.

Rui Luís Lima

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Spike Jonze - “Queres Ser John Malkovich?” / “Being John Malkovich?”


Spike Jonze
“Queres Ser John Malkovich?” / “Being John Malkovich?”
(EUA – 1999) – (112 min. / Cor)
John Cusack, Cameron Diaz, Catherine Keener, John Malkovich.

Spike Jonze deu nas vistas como realizador de “video-clips”, devido ao imaginário neles contido e, quando se associou ao argumentista Charlie Kaufmann, um dos mais talentosos da sua geração, nasceu “Queres Ser John Malkovich?” / “Being John Malkovich?”, um filme estranho e único pela sua temática, ao convidar-nos a conhecer o universo interior do célebre actor, surgindo ele próprio na primeira pessoa, sentindo que alguém se encontra no interior do seu cérebro, a espiar os seus comportamentos, como se escutasse uma voz dominadora a controlar os seus pensamentos mais íntimos.


Imagine o leitor a ter alguém a espiar os seus sentimentos mais profundos, chegando a dar-lhe ordens para estudar as suas reacções, certamente iria ter um problema complexo para resolver.

Craig Schwartz (John Cusack) ganha a vida nos parques, trabalhando com marionetas, mas as histórias que conta às crianças são na verdade aterrorizantes e surrealistas, tanto para os mais pequenos como para os adultos que os acompanham, e depois o seu aspecto também não é sinónimo de empatia com os espectadores. Mas lá vai ganhando a vida com inúmeras dificuldades, já a sua esposa Lotte Schwartz (Cameron Diaz), também ela excêntrica, revela-se uma esbanjadora do dinheiro arduamente amealhado pelo marido, revelando-se um dos casais mais imperfeitos da história do cinema.


Será esta a razão que levará o jovem artista a aceitar trabalhar como arquivista para uma Companhia, situada no coração de Manhattan, mas possuindo os seus escritórios entre o sétimo e o oitavo andar de um alto edifício, entramos assim pela porta estreita no universo de Charlie Kaufmann, revelando-se esta sequência verdadeiramente hilariante.


Nesse estranho escritório de tectos baixos, onde nada é normal, o nosso herói irá conhecer Maxine Land (Catherine Keener) e um dia irá descobrir, por detrás de um armário, uma porta que dá para um túnel, que o irá conduzir até à mente do inenarrável John Malkovich, espiando os seus pensamentos, ao mesmo tempo que o actor começa a sentir que possui alguém no interior do seu cérebro.

Ao longo de 15 minutos, o incrédulo Craig Schwartz espia John Malkovich, terminando a sua aventura ao ver-se atirado para a berma de uma auto-estrada.


Feliz, mas confuso com este achado estranhissimo, começa a organizar verdadeiras excursões ao cérebro do actor, para assim auferir mais algum dinheiro, ao mesmo tempo que John Malkovich começa a sentir uma estranha voz no seu interior a comandar as suas acções. Chegamos assim a esse momento mágico, só possível no cinema, em que John Malkovich decide investigar o que se passa no interior da sua cabeça, fazendo a viagem ao seu próprio interior.


Se as interpretações de John Cusack e Catherine Keener são sublimes, será John Malkovich o verdadeiro arquitecto desta película, auto-parodiando-se de forma brilhante, brincando com o seu estatuto de estrela, com as suas imperfeições e manias, conduzindo o humor a territórios até hoje nunca vistos.


“Being John Malkovich” / “Queres Ser John Malkovich?” revela-se uma película contagiante, pelo humor surpreendente e a genialidade de um argumentista chamado Charlie Kaufmann, numa parceria perfeita com Spike Jonze, mas que nunca poderia ser possível sem o contributo do genial John Malkovich, que navega neste filme como um peixe dentro de água, bem conhecedor do seu universo.

Rui Luís Lima

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Martin Campbell - A Máscara de Zorro” / “The Mask of Zorro”


Martin Campbell
“A Máscara de Zorro” / “The Mask of Zorro”
(EUA/Alemanha – 1998) – (136 min. / Cor)
Antonio Banderas, Anthony Hopkins, Catherine Zeta-Jones,
Stuart Wilson, Matt Letscher.

Zorro é um daqueles heróis, tal como Robin dos Bosques, que tem povoado o imaginário de diversas gerações ao longo das décadas e ambos viram a luz do dia no cinema, ainda no período do mudo, tendo a primeira película em que Zorro é personagem ou herói, se preferirem, sido realizada em 1920, por Fred Niblo, com o inevitável Douglas Fairbanks como protagonista, que também interpretara as aventuras de Robin dos Bosques. E após este herói ter sido popularizado no cinema, viu a sua existência estender-se ao pequeno écran, nos anos cinquenta e à banda desenhada.


Em 1998 o cinema viu surgir uma nova versão pela mão do realizador Martin Campbell, que no ano anterior assinara mais uma aventura de James Bond “Golden Eye”, com Pierce Brosnan a vestir a pele do famoso 007, aliás será este mesmo cineasta, especializado em filmes de acção, que irá apadrinhar a entrada de Daniel Craig na figura do popular agente de Sua Majestade, no magnífico “Casino Royale”.


Mas regressando ao que nos interessa, esse defensor dos pobres e oprimidos conhecido por Zorro, que deixa sempre a sua famosa marca por onde passa, tornando-se uma lenda, que iremos reencontrar em “A Máscara de Zorro” / “The Mask of Zorro”, nesse distante século xix, em que a “justiça” dos poderosos persegue os camponeses num México à beira do caos.


Esta película, que possui como produtor executivo Steven Spielberg, irá pontuar as cenas de acção com o humor, ao mesmo tempo que convoca o melodrama para acentuar a história do surgimento de Zorro. Iremos assim descobrir que o fidalgo Don Diego de la Vega (Anthony Hopkins) é o temível justiceiro, mas a sua luta contra o poderoso e temível governador Don Rafael Montero (Stuart Wilson) irá acabar por lhe ser fatal, terminado por ser preso, depois de ter visto a sua mulher morrer para o proteger, ao mesmo tempo que Don Rafael decide levar-lhe a filha recém-nascida, para a educar como sua própria filha, já que também ele amara perdidamente a esposa de Don Diego.


Vinte anos depois, o destino daquelas três personagens irá cruzar-se de novo, quando Don Rafael Montero (Stuart Wilson) regressa ao México, então governado pelo temível general Santa Ana, que mantém uma guerra aberto com os americanos. Mas por essa altura Don Diego (Anthony Hopkins), um Zorro envelhecido, consegue fugir da prisão e decide preparar a sua vingança e reaver a filha perdida, já uma mulher adulta, que pensa que seu pai é o temível Don Rafael, que possui um plano audacioso para comprar a Califórnia ao General Santa Ana, após ter descoberto ouro na região e cuja localização mantém escondida de todos.


O envelhecido Zorro decide então tomar como pupilo um bandido pouco experiente, Alejandro Murrieta (António Banderas), para ele manter bem viva a lenda do justiceiro Zorro. Iremos assim assistir aos primeiros passos de Alejandro, que também pretende vingar a morte do seu irmão às mãos do sanguinário capitão Harrison Love (Matt Letscher), ao mesmo tempo que fica perdidamente apaixonado por Elena (Catherine Zeta-Jones),


Ao longo da película, Martin Campbell controla com eficácia todas as cenas de acção, embora abuse um pouco na introdução do humor mas, ao fim e ao cabo, o que temos aqui é um filme de aventuras para interagir com os espectadores, seja no cinema ou em família no lar, e isso é plenamente conseguido, acabando como não podia deixar de ser a justiça por vencer.


O sucesso desta película levou a que sete anos depois os Estúdios convidassem Martin Campbell a realizar uma sequela intitulada “A Lenda de Zorro” / “The Legend of Zorro”, mas como não podia deixar de ser, a ausência de Anthony Hopkins acabará por se fazer sentir, sem qualquer desprimor para os protagonistas António Banderas e a bela Catherine Zeta-Jones.

Rui Luís Lima

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Larry Wachowsky / Andy Wachowsky - “Matrix” / “The Matrix”


Larry Wachowsky / Andy Wachowsky
“Matrix” / “The Matrix”
(EUA – 1999) – (136 min. / Cor)
Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss, Hugo Weaving.

Como sabemos, há duplas que se formam para sempre no interior da sétima arte, muitas vezes constituídas por laços familiares, como sucede com os irmãos Wachowsky. Estes iniciaram o seu trabalho de escrita no interior da banda desenhada, passando depois para o cinema e seria o ano de 1996 a marcar a estreia desta dupla, através de “Bound”, um filme que possuía duas mulheres como protagonistas: Jennifer Tilly e a bela Gina Gershon, numa obra que revisitava o “film noir” de forma original.


Três anos depois, eles irão surpreender as audiências com “Matrix”, sendo também autores do argumento. E se olharmos precisamente para esse mesmo argumento, percebemos que eles são conhecedores da obra de William Gibson, escritor que nos ofereceu livros como “Neuromante” e “Idoru”, que marcaram decididamente o território da ficção-cientifíca contemporânea, influenciando muitos autores do género.


“The Matrix” conta-nos a história/aventuras de Neo (Keanu Reeves), um programador de software que se transforma em Hacker quando a noite chega e que um dia irá conhecer a bela e enigmática Trinity (Carrie-Anne Moss), que irá apresentá-lo a um outro Hacker célebre, o famoso Morpheus (Laurence Fishburne), que lhe irá dar a conhecer uma realidade desconhecida até então: o mundo que habitamos não passa de um programa de realidade virtual, controlado por máquinas, em tempos criadas pela raça humana e que controlam a seu belo prazer o mundo em que vivemos.


No entanto existe um pequeno grupo de rebeldes, refugiados numa cidade subterrânea, que mantém uma luta feroz contra esta inteligência artificial, aguardando há longos anos a chegada de uma espécie de Messias, que os conduzirá à vitória.

Neo (Keanu Reeves) é precisamente esse homem tão esperado e ao longo da película iremos assistir à sua luta com essa inteligência artificial, que domina a raça a humana.


Se as coreografias dos combates, da responsabilidade do Mestre Woo-Ping Yuen, nos oferecem momentos únicos e espectaculares, usando como não podia deixar de ser o “slow-motion”, já as dissertações filosóficas de Morpheus (Laurence Fishburne), acerca do destino da humanidade e da sua luta, são sempre demasiado extensas no filme, revelando-se como o ponto fraco da película.

Por outro lado, ao vermos “Matrix”, é inevitável uma comparação com “Dark City” de Alex Proyas, que navega nas mesmas águas, mas tem um argumento mais bem delineado, reservando-nos a surpresa para o final.


“The Matrix”, que deu mais tarde origem a mais duas películas “The Matrix Reloaded” e “The Matrix Revolution”, tem a marca do seu produtor Joel Silver, responsável por muitos dos filmes de Walter Hill, tendo demonstrado sempre um conhecimento perfeito de como gerir a máquina produtiva de Hollywood. Já os irmãos Wachowsky conseguiram, devido à intensidade dos combates que vão beber directamente a sua magia ao cinema oriundo de Hong-Kong, cativar as audiências para um filme onde o cinema de acção ultrapassa pela direita a génese da ficção-cientifíca. Por esta mesma razão, quando comparamos “Matrix” com “Dark City”, preferimos a película de Alex Proyas.

Rui Luís Lima

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Neil Jordan - “O Fim da Aventura” / “The End of The Affair”


Neil Jordan
“O Fim da Aventura” / “The End of The Affair”
(Grã-Bretanha/EUA – 1999) – (102 min/Cor)
Ralph Fiennes, Julianne Moore, Stephen Rea.

O cineasta irlandês Neil Jordan, que ficara célebre através da película “Jogo de Lágrimas” / “The Crying Game”, ao aproximar-se o milénio, ofereceu-nos um dos mais intrigantes e apaixonantes melodramas da Sétima Arte, tendo por base o fabuloso romance de Graham Greene “The End of The Affair”, sobre o qual William Faulkner se referiu nestes termos após o ter lido: “Para mim é um dos mais verdadeiros e comovedores romances do meu tempo em qualquer língua”.


Mais uma vez Neil Jordan se vai encarregar do argumento de “O Fim da Aventura” / “The End of The Affair”, algo que é habitual na sua forma de trabalhar, ao mesmo tempo que convidava esse actor chamado Stephen Rea, uma espécie de alter-ego do cineasta, para uma das personagens e transforma Ralph Fiennes e Julianne Moore nos protagonistas deste enredo apaixonante, que também possui muito de religioso, já que estamos perante uma promessa que, ao ser esquecida, será confrontada com uma dura pena.


O escritor Maurice Bendix (Ralph Fiennes) mantém uma relação amorosa com Sarah Miles (Julianne Moore), casada com Henry Miles (Stephen Rea), durante a guerra, com Londres a ser duramente atingida pelo Blitz da aviação alemã e nesse dia trágico a casa onde se encontram é bombardeada e embora ambos consigam sobreviver, “quase” por milagre, Sarah (Julianne Moore) decide abandonar o amante para sempre, sem lhe dar qualquer explicação. Dois anos depois, com a guerra terminada Maurice Bendiz (Ralph Fiennes), que nunca esqueceu a mulher que amou e continua a não perceber as razões que a levaram a abandoná-lo, percebe que nunca poderá viver com a dúvida na sua alma e após ter-se cruzado com o enigmático Henry Miles (Stephen Rea), decide descobrir o verdadeiro mistério que rodeia o seu abandono pela mulher que o amava perdidamente.


“O Fim da Aventura” / “The End of The Affair” possui todos os ingredientes que conduzem um filme a esse estatuto de obra-prima, porque estamos perante um argumento fabuloso, com uma realização sem mácula de Neil Jordan, com interpretações inesquecíveis e uma das mais belas bandas sonoras de Michael Nyman, a pontuar de forma perfeita esse belo e movediço território da paixão, que aqui assume um contexto religioso.


Não perca este filme e leia também o livro, porque vale mesmo a pena, sendo a tradução de Jorge de Sena. Aproveito para relembrar que a primeira adaptação cinematográfica do livro de Graham Greene foi feita pelo cineasta norte-americano Edward Dmytryk em 1955 sendo os protagonistas da película, Deborah Kerr, Van Johnson e Peter Cushing.

Rui Luís Lima

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

sábado, 17 de dezembro de 2022

Richard Curtis - "O Amor Acontece" / "Love Actually"


Richard Curtis
"O Amor Acontece" / "Love Actually"
(Grã-Bretanha/França/EUA - 2003)
Hugh Grant, Alan Rickman, Emma Thompson.
Colin Firth, Laura Linney.

Richard Curtis, famoso argumentista da televisão e cinema britânicos, recorde-se que esteve envolvido desde sempre no famoso “british boom”, que todos os anos oferece um “filme sucesso”, de preferência com uma estrela americana, para alimentar as plateias e aumentar as receitas dos produtores e assim foi com naturalidade que o encontramos a assumir a realização deste filme repleto de altos e baixos, onde o melhor habita com o péssimo e o sofrível se salva.


Assim temos o melhor com o segmento que tem Emma Thompson e Alan Rickman como protagonistas e aqui confesso que sempre que oiço a Joni Mitchell me recordo deles; o sofrível no episódio em registo de comédia em que o Primeiro-Ministro é interpretado por Hugh Grant e por fim o inenarrável segmento em que Colin Firth e Lucia Moniz contracenam e o realizador nos oferece um retrato dos portugueses verdadeiramente inacreditável!


Nota: Temos mais episódios, em “O Amor Acontece” / “Love Actually”, mas são estes três segmentos do filme realizado por Richard Curtis, que me merecem a atenção.

Rui Luís Lima

domingo, 4 de dezembro de 2022

Juliam Jarrold - "A Juventude de Jane" / "Becoming Jane"


Juliam Jarrold
"A Juventude de Jane" / "Becoming Jane"
(Grã-Bretanha/Irlanda - 2007) - (120 min./Cor)
Anne Hathaway, James McAvoy, Julie Waters.

Pode ler aqui crónica sobre este filme realizado por Julian Jarrold.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Peter Webber - "Rapariga com Brinco de Pérola" / "Girl with a Pearl Earring"


Peter Webber
"Rapariga com Brinco de Pérola" / "Girl with a Pearl Earring"
(Grã-Bretanha/Luxemburgo/França/Bélgica/EUA - 2003)
(100 min./Cor)
Colin Firth, Scarlett Johansson, Tom Wilkinson, Judy Parfitt.

Pode ler aqui crónica sobre este filme de Peter Webber.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Pieter Jan Brugge - “Na Sombra de um Rapto” / “The Clearing”


Pieter Jan Brugge
“Na Sombra de um Rapto” / “The Clearing”
((Alemanha/EUA – 2004) – (95 min./Cor)
Robert Redford, Willem Dafoe, Helen Mirren, Matt Craven.

Muitas vezes o cinema contemporâneo peca pela extensão dos planos, por esses silêncios profundamente ruidosos, por falta de diálogo, por panorâmicas bonitinhas a convidar ao bilhete-postal, mas nada disso sucede com este fabuloso filme realizado por Pieter Jan Brugge, que conta com um quarteto de luxo a nível interpretativo, porque a tensão é permanente e aquele rapto inexplicável cometido por um homem vulgar irá prender-nos a atenção a cada segundo.


Depois temos a genialidade do cineasta que iremos perceber (caso seja um espectador atento), à medida que o tempo passa, em que cada gesto é importante, cada silêncio levanta um pouco mais o véu da intriga, até chegarmos a esse final “tranquilo”, em que percebemos o estado a que este mundo em que vivemos chegou. Mas também nunca nos poderemos esquecer das interpretações de Robert Redford e Willem Dafoe dois actores mais-que-perfeitos da arte de interpretar e dar vida a um personagem.


O genial “Na Sombra de Um Rapto” / “The Clearing” tem estado a ser exibido no pequeno écran e bem merece ser descoberto!

Rui Luís Lima