segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Rob Reiner - “Nunca é Tarde Demais” / “The Bucket List”


Rob Reiner
“Nunca é Tarde Demais” / “The Bucket List”
(EUA - 2007) – (97 min. / Cor)
Jack Nicholson, Morgan Freeman, Sean Hayes.

Tenho que confessar que Jack Nicholson é um daqueles actores que me levam ao cinema e, apesar de nos dias de hoje se falar bastante nos seus tiques, desde que ele ganhou mais um Óscar com o maravilhoso “Melhor é Impossível” / “As Good As It Gets”, continuo a admirar as suas prestações nessa Arte difícil de ser actor. Porque nem só de comédias vive o Jack e basta recordar três títulos, mais ou menos recentes, das suas prestações para lhe reconhecermos o valor: “The Departed” (esquecido nos Oscars); o fabuloso “About Schmidt”; “The Pledge” / “A Promessa” um extraordinário filme realizado por Sean Penn.


E falamos apenas de filmes mais recentes, porque se olharmos para trás temos películas como o extraordinário “Voando Sobre um Ninho de Cucos”, “Shining”, “The Last Detail” ou “Missouri Breaks”, já para não falarmos nesses tempos em que ele vivia de mãos dadas com o cinema independente, isto é “Easy Rider” ou “The Little Shop of Horrors”, no início de carreira. Poderíamos ficar a falar de muitos mais filmes, mas o que nos interessa aqui é, na verdade, “Nunca é Tarde Demais”, a película de Rob Reiner. E por falar do cineasta, que também é actor, recordamos apenas três títulos de que gostamos da sua filmografia “The American President”, “When Harry Met Sally” e o maravilhoso “Stand By Me”.


Isto tudo para nos situarmos um pouco em “The Bucket List”, que apenas pretende ser uma comédia, simplesmente uma comédia, não negra como alguns desejavam, mas uma comédia simples com dois grandes actores: Jack Nicholson e Morgan Freeman.


Edward Core (Jack Nicholson) é um milionário que dirige diversos hospitais (os famosos privados) e que um dia, por razões de saúde, vai conhecer as próprias instalações que gere, não concordando de imediato com a não existência de quartos privados, sendo obrigado a compartilhar o espaço com um mecânico, Carter Chambers (Morgan Freeman) de seu nome, que se encontra hospitalizado para mais um tratamento de quimioterapia.


O mundo destes dois homens é precisamente o oposto e quando o diagnóstico de Edward Core (Jack Nicholson) se revela terrível, compartilhando a mesma doença com o seu colega de quarto, sente o mundo cair-lhe em cima, não conseguindo esconder a sua revolta, perante um pacífico Carter (Morgan Freeman), que aceita a verdade dos factos: pouco tempo lhe resta neste mundo por vezes tão cruel.


Por essa mesma razão, Carter decide seguir o conselho do seu antigo professor de filosofia e começa a elaborar uma lista de coisas que desejava fazer um dia e que nunca teve oportunidade. Edward primeiro acha a lista estranha e depois sem sentido, ao ver os pequenos desejos de Cárter e decide também elaborar a sua, muito mais atractiva que a do seu colega segundo a sua opinião, porque ele possui os meios financeiros necessários para a realizar.


Ao saírem da clínica, combinam juntar as duas listas e partir rumo à aventura, no sentido de usufruírem o melhor possível os dias que lhes restam de vida. Iremos assim assistir às diversas peripécias desse roteiro criado a duas mãos, onde de imediato a comédia se instala, ao mesmo tempo que um olhar sobre o passado origina uma certa reflexão sobre os erros cometidos.


Rob Reiner, durante a estadia dos protagonistas no hospital, oferece-nos um olhar que não esconde a dureza dos tratamentos de quimioterapia, tão bem conhecidos de todos nós, introduzindo depois o seu saber da comédia ao longo da película, pontuado por pequenos momentos de reflexão sobre o sentido da vida, sendo a reconciliação com os familiares mais próximos o derradeiro passo de uma existência: Carter com a esposa que não compreende a sua partida com um desconhecido; Edward que decide visitar a filha e a neta à longo tempo esquecidas.


“Nunca é Tarde Demais” revela-se uma comédia que nos faz pensar um pouco na fragilidade da nossa existência porque, quando deixamos de viver, não partimos para uma nova vida, essa crença que nos serve de bengala ao longo da nossa passagem pela terra e nos leva sempre a acreditar na existência de um mundo melhor. Depois de partirmos apenas ficam as cinzas da nossa passagem, essas mesmas cinzas que o fiel assistente de Edward irá depositar num local perdido de todos os olhares, último desejo de Edward e Carter. Por tudo isto “The Bucket List” merece uma visita.

Rui Luís Lima

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