quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Marcel Proust - "Correspondance avec madame Straus"


Marcel Proust
"Correspondance avec madame Straus"
Páginas:320
Le livre de poche

A primeira vez que entrei na Livraria Gibert Joseph, do boulevard Saint Michel em Paris, e me dirigi ao piso dedicado à literatura, fiquei fascinado pelo espaço, o cheiro a livros era inebriante, e pelo facto de ter na minha frente uma série de volumes da correspondência de Marcel Proust na edição do Philip Kolb, esse americano que se apaixonou por Paris, onde conheceu a sobrinha de Proust, que lhe irá permitir que ele, num trabalho que durou quase meio-século, reunisse a totalidade da correspondência do escritor francês e a editasse e assim ali tinha eu vários desses volumes, vendidos por alguém que certamente necessitava de dinheiro, a preços proibitivos para a minha bolsa. Terminei por trazer um "bouquin" da Flammarion com uma antologia da correspondência do escritor, correspondência essa que se iniciava com uma carta escrita em criança, dirigida à mãe.

Marcel Proust
(1871 - 1922)

No meu aniversário, mão amiga ofereceu-me este volume da correspondência de Marcel Proust com a madame Straus, que viria a servir de modelo para a criação da célebre Duquesa de Guermantes, personagem de "Em Busca do Tempo Perdido". E este belo volume surgido em 1974 na edição do "Le Livre de Poche", nesta época o Gallimard ainda não se tinha zangado com o amigo, só depois nasceria a Folio, oferece-nos um prefácio de Suzy Mante-Proust, que nos introduz de forma simples e aliciante nas personagens que iremos encontrar neste livro, que está dividido em várias partes:

1 - Lettres a madame Émile Straus (o grosso do volume: 124 cartas)

2 - Lettres a monsieur Émile Straus (9 cartas)

3 - Dédicaces a monsieur et madame Straus

4 - Lettres de madame Émile Straus a Marcel Proust (que surge em apêndice)

Geneviève Halévy / Madame Straus
(1849 - 1926)

A leitura da correspondência ou os diários de um escritor permitem sempre conhecermos melhor a sua obra, mas também de entrarmos discretamente na sua intimidade e ainda me recordo do "escândalo", no bom sentido da palavra, (todo o cuidado é pouco ao escrevermos), quando surgiu a "Conta-Corrente" do escritor Vergílio Ferreira, mas regressemos a Proust, porque mais uma vez penetramos nessas vielas estreitas entre a ficção e a realidade que constituem o incontornável "Em Busca do Tempo Perdido".

Iremos assim viajar na primeira pessoa nos problemas da edição da obra de Marcel Proust; a doença que o fustigava lentamente; a bela Celeste sempre pronta a ajudar; o imbróglio com o Alfred Agostinelli e a sua morte, recorde-se que o secretário do escritor serviu de modelo para a Albertina; as finanças de Marcel que ele sempre geriu mal, seguindo conselhos errados e fazendo investimentos ruinosos, jogar na bolsa era sempre um desastre garantido; as eternas correcções dos manuscritos; os jantares e os saraus sempre nesse esplendor que um dia nos ofereceu o cineasta alemão Volker Schlöndorff no seu filme, com a Ornella Mutti e o Jeremy Irons: iremos ainda saber que ele nunca guardava uma cópia dos textos que enviava para o jornal Figaro.

Marcel Proust com a família

A leitura desta "Correspondance avec madame Straus" conduz-nos não só ao interior das páginas do "Em Busca do Tempo Perdido", como também nos reenvia para a leitura da famosa biografia que Jean-Yves Tadié lhe dedicou, recomendo vivamente a sua leitura: dois volumes contendo mais de 2000 páginas. E chegados aqui convém escrever que a madame Straus, que trata o escritor por "mon petit cher Marcel" se chama Geneviève Halévy e foi casada primeiro com o célebre compositor George Bizet e mais tarde com o advogado Émile Straus, que sempre deu bons conselhos ao escritor, especialmente durante a morte acidental do seu secretário Agostinelli, que era casado e a viúva gostava bastante desse metal que faz rodar o mundo.

"Correspondance avec madame Straus" de Marcel Proust é um livro que recomendo a todos os leitores de Marcel Proust, sei que ainda há por aí alguns e tenho de confessar que este livro foi uma bela prenda de aniversário.

Rui Luís Lima

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