sexta-feira, 31 de março de 2023

Costa-Gavras - “O Capital” / “Le Capital”


Costa-Gavras
“O Capital” / “Le Capital”
(França – 2012) – (114 min./Cor)
Gad Elmaleh, Gabriel Byrne, Natacha Régnier.

O primeiro filme que vi deste cineasta grego, naturalizado francês, foi em 1970 no cinema Eden, “A Confissão” / “L’aveau”, com Yves Montand no protagonista, tinha eu 11 anos e desconhecia que estava a dar os primeiros passos na cinéfilia, fixei o nome do actor e o estranho nome do realizador, depois quando voltei a “encontrar-me” com Costa-Gavras, o filme chamava-se “Z – A Orgia do Poder” / “Z” e nesse momento percebi que este realizador possuía o estatuto de cineasta, algo que o tempo veio a comprovar, porque a sua assinatura encontra-se nas imagens e no argumento das películas que realiza, sendo bastante interventivo na criação dos argumentos dos filmes que dirige com enorme saber, todos eles a interrogarem o mundo em que vivemos e sempre bastante incómodos para o Poder, seja qual for a sua cor, a única excepção da sua filmografia intitula-se “A Luz da Paixão” / “Clair de femme” com Yves Montand e Romy Schneider.


Neste estranho século XXI, o jornalismo atravessa a pior crise da sua história, como entidade independente dos poderes, seja o político, o económico ou essa entidade denominada redes-sociais, a última película de Costa-Gavras intitulada “O Capital” / “Le Capital”, revela-se uma verdadeira lufada de ar fresco ao nos contar a história de um testa de ferro chamado Marc Tourneuil (espantosa interpretação de Gad Elmaleh), que ao assumir a Presidência de uma importante Instituição Bancária decide tomar o Poder, jogando nos mais diversos tabuleiros da Alta-Finança e dos Mercados, manipulando e traindo, sem dó nem piedade, os seus aliados e “padrinhos”, intitulando-se o “Robin dos Bosques dos Ricos” e terminando por vencer em todas as frentes, incluindo a familiar, logo a primeira a ser conquistada, e contornando com dificuldade as célebres tentações que por vezes atingem fatalmente as suas almas gémeas.


“O Capital” / “Le Capital” de Costa-Gavras, oferece-nos assim um retrato do mundo contemporâneo que, inevitavelmente, nos leva a interrogar não só a informação que temos, mas também o mundo em que vivemos, onde cada vez mais os Mercados, com as suas célebres Agências de Rating, decidem o destino dos países e fazem tremer os seus dirigentes políticos.


Mais uma vez Costa-Gavras assina um filme genial e incontornável, que enriquece decididamente a sua filmografia e que bem merece ser redescoberto, porque se encontra para além de qualquer ideologia!

Rui Luís Lima

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